Por Lauro Arruda Câmara Filho
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) teve como estopim o assassinato do arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do trono austro-húgaro, e de sua mulher, Sofia, duquesa de Honemberg, por um nacionalista sérvio. O s dois foram mortos durante visita oficial a Sarajevo, capital da Bósnia, em 28 de junho de 1914. O Brasil havia adotado uma postura neutra no conflito intercontinental, e só decidiu participar da guerra em 1917, três anos depois do seu início, após navios brasileiros sofrerem ataques de submarinos alemães.
Em 1917, o vapor Paraná, carregado com 95 mil sacas de café e feijão, mesmo com todos os códigos de neutralidade à vista (completamente iluminado, bandeira içada e com a palavra BRASIL pintada no casco) foi afundado próximo a Costa da Normandia, França, por um torpedo disparado por um submarino alemão, o que causou a morte de três brasileiros. Esse episódio motivou o rompimento das relações diplomáticas do Brasil com a Alemanha, em 11 de abril de 1917. Em seguida, outros seis navios com bandeira brasileira foram afundados pelos alemães em águas francesa, espanhola e portuguesa. Após o torpedeamento dos navios mercantes Acary e Guaiba, o presidente do país à época, Wenceslau Braz, pediu ao congresso nacional autorização para tomar medidas de represália, e o legislativo votou a severa Lei de Guerra. Em resposta aos ataques aos navios, foram apreendidos em portos brasileiros 42 cargueiros alemães.
Grande parte dos escritores, jornalistas e demais formadores de opinião na imprensa brasileira defendiam uma atitude ainda mais dura contra o bloco da Tríplice Aliança -liderado pela Alemanha e da qual participavam também o Império Austro-Húngaro e a Itália (durante o conflito, a Itália mudou de lado e passou a combater a Áustria, por questões territoriais antigas)- e pediam que o Brasil apoiasse o bloco conhecido como Tríplice Entente (composto por Rússia, França e Grã Betanha). Na época, chamou a atenção o fato de o rei Jorge V, da Inglaterra, o kaiser Guilherme II , da Alemanha, e o tzar Nicolau II, da Rússia, serem parentes: todos eram descendentes da rainha britânica Vitória.
O Brasil na guerra
Em 26 de outubro de 1917, o presidente brasileiro Wenceslau Braz, com aprovação do congresso, declarou guerra à Alemanha, após o torpedeamento e prisão do comandante do vapor mercante Macau. A população brasileira reagiu com fúria aos ataques aos navios do país: empresas, escolas e jornais de famílias alemãs foram depredados, principalmente em São Paulo e Porto Alegre. O Brasil foi o único país sul americano a entrar na guerra como combatente.
Em meados de 1918, o governo brasileiro enviou para o front francês 28 jovens oficiais, chefiados pelo general Napoleão Felipe Aché, e também uma divisão de navios de combate, que atuou sob orientação da esquadra inglesa. Entre eles, estavam os cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul ; os contratorpedeiros Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina ; um navio auxiliar e um rebocador. Essa divisão de operações de guerra só chegou ao estreito de Gibraltar, que separa os continentes europeu e africano, em novembro, pois ficou retida na costa africana pela terrível pandemia da gripe espanhola. Em 09 de agosto, a esquadra aportou em Freetown, Serra Leoa, na África, que era sua primeira escala para reabastecimento; foi provavelmente lá que o vírus subiu a bordo. Em 06 de setembro, já em Dakar, no Senegal, o número de doentes era muito alto: em apenas uma semana, entre os dias 11 e 18 de setembro, cerca de cinquenta pessoas morreram nos navios – os cadáveres eram enrolados em lonas e amarrados em tábuas, e rapidamente enterrados no cemitério. Ao todo, a gripe espanhola acometeu cerca de mil dos mil e 200 homens, sendo que 156 deles morreram.
Missão Médica
Sob a chefia do Dr. Nabuco Gouveia, oitenta e seis médicos, incluindo dezessete professores de Medicina, a maioria civis, se juntaram aos seis médicos brasileiros que já atuavam na França – este grupo integrou a Missão Médica que trabalhou no Hospital Franco-Brasileiro, instalado num antigo convento de jesuítas, na rue de Vaugirard, em Montparnasse, Paris. O hospital era mantido pelos brasileiros residentes em Paris. Além dos médicos, faziam parte da missão técnicos em saúde, enfermeiros, dentistas e farmacêuticos, totalizando 153 especialistas para ajudar no atendimento aos feridos da guerra que foi a mais letal e mutilante até então – ao invés dos antigos combates corpo a corpo, na Primeira Guerra Mundial surgiram as insalubres trincheiras, os canhões semiautomáticos, os lança-chamas, os gases venenosos, os submarinos e seus torpedos, os aviões, os tanques de guerra com lagartas (esteiras), as metralhadoras e as motocicletas.

Hospital Franco-Brasileiro em Paris, França.
Em 11 de novembro de 1918, dentro de um vagão-restaurante na margem do rio Oise, afluente do Sena, os aliados e a Alemanha assinaram o Armistício de Compiègne e a Primeira Guerra Mundial foi encerrada. Mas o Hospital Franco-Brasileiro funcionou até fevereiro de 1919, atendendo os feridos de guerra e a população civil da França acometida pela gripe espanhola.